Ninguém avisa que  a vida passa rapidinho

Nádia Timm

 

Falam sempre que o tempo voa. Reclamam que os anos passam cada vez mais rápido, mas não dimensionam o que isto significa. Foi assim com Mariinha, também.

Um dia, acordou sentindo o peso dos recém chegados 32 anos. Era linda e estava no terceiro casamento. Apesar do sucesso que fazia nas colunas sociais e de levar uma vida de madame, se sentia perdida.

Não tinha coragem de fazer planos para o futuro, reclamava que estava enfraquecendo, envelhecendo.

(Traduzindo,  na linguagem feminina o drama se resume na palavra engordando.)

Entrou e saiu das fases de regimes e de estourar os cartões de crédito.  Queria aproveitar cada minuto. Decidiu partir para a grande loucura. Abandonou o maridão, filhos,  estabilidade,  mudou de cidade. Voou para Nova York.  O maior desatino foi o novo namorado, um tipinho muito à toa.

 Em devaneio, Mariinha achava o caos, super romântico. Vivia para curtir a maluquice de transar três vezes ao dia com o talzinho bonitão. Cá pra nós, o bebum era  bom de cama. Nem precisava do Viagra.

Mas a moça, apesar da ginástica sexual cotidiana se sentia  derrotada. Nesta época, chegou um e-mail que a impressionou. O título era Projeto Filadélfia.  Falava de planos científicos secretos, envolvendo ufos, invisibilidade, viagens no tempo. Coisas de maluco, dos anos 70, do século vinte.

A mensagem transcrevia o depoimento  de um oficial da marinha dos EUA e citava cientistas do porte de Einstein. Mariinha cismou de lembrar de seus tempos de infância e adolescência, em Minas Gerais.

Recordou com alegria das noites estreladas nas quais ficava olhando o espaço sideral, deitada na grama, durante horas. A melodia de “Lucy in skay with diamonts” vinha à lembrança.

Tempinho delirante, de experimentar tudo e embarcar na imaginação. A maior –ah essa era a preferida -  confirmar aque tinha visto um  ovni, um objeto voador não identificado. Ela jurou por todos os santos. Até apareceu na televisão.

O disco voador  rodopiante com seus brilhos  - e vôo de prato jogado pra cima - atravessou o céu na madrugada fria, confirmou, no microfone do programa Flávio Cavalcante.

 Um vexame. Que mico. Acharam que Mariinha tinha bebido um chá de cogumelo estragado ou era efeito do baseado. Riam da história que a mocinha repetia. Nem ligava, sacudia os ombros.

"Quem sentiu a vibração do cosmo fui eu. Eles se aproximam porque percebem minha aura brilhante. Vai ver me querem, vão me buscar", dizia.  

Quando era noite de lua cheia pegava o cobertor, subia no alto da pedra, no fundo do quintal.

Levava o cigarro e a maconha escondidos porque isso era moderno. Também era bacana falar mal dos militares, do capitalismo. Amar Chico Buarque e a poesia de Neruda.

Uma noite, enfim, foi abduzida. Não sentiu medo quando ele chegou. Olhos negros cravados no seus.  Ou seriam verdes de neon?  Era um ser alto, muito alto e magro.

No penhasco, corujas e morcegos movimentavam a paisagem. A nave estava próxima, com um gesto a convidou a embarcar.

 Eram quase duas horas da madrugada.  Mariinha ouviu um som delicado. Logo começaram a trocar fluidos. A vidraça  ficou embaçada. Sentia calafrios, arrepiava, gemia.

A abdução durou uma hora e meia, o suficiente para a moça se apaixonar e fazer juras de amor eterno. Mulher, o bicho mais gostosinho do universo, pensava o extra.

Mariinha já queria partir com alienígena. Ele explicou que sua casa era muito distante, numa galáxia há zilhões de anos-luz. Viagem perigosa para uma frágil terráquea.

 Acabou convencendo a moça, quando prometeu que em breve voltaria. (Tradução da linguagem masculina: era casado.)

Fizeram amor, novamente.  Sexo selvagem, saca? O carrão balançava. Dali em diante, sempre que Mariinha sentia prazer lembrava daquele ser que conseguiu fazer  que se sentir tão maravilhosamente puta.

O sol se escondeu  e renasceu muitas vezes. Enfim, o terceiro milênio havia chegado. Passaram vinte e tantos anos. Mas nada do  tesudo  ET pintar. Figurinha difícil, esse.

Se Mariinha soubesse quem ele se tornou, deletava a fantasia, não ia pensar em ovni coisa nehuma!  O cara tinha criado uma pança enorme, do tamanho das enormes dívidas no banco e com sua esposa mais enorme ainda.

Porém, na vida real  tudo é absurdo. Uma noite, levada pela saudade, Mariinha retornou à cidadezinha. Voltou ao quintal da casa de seus pais, onde foi instalada uma rentável igreja evangélica. Foi para cima da pedra e com o binóculo buscou os seres da noite no abismo.

Ficou horas, recordando do encontro em primeiro grau. Ali, junto à fogueirinha de papel,  percebeu o quanto sua vida era vazia e acordou. Chegou à consciência que precisava aprender a viver.

Alguns dias depois, enquanto  curtia profundo tédio,  em pleno Central Park, encontrou  seu mestre. 

Finalmente, começou  a conhecer o amor de verdade.

 

06/02/2005

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